Que tem que em raptos de feroz ternura,
Nas ondas da volúpia, ao meu estreite,
Nem sei se mais com dor, mais com deleite,
Do teu corpo a vibrátil escultura?
Sua forma é perfeita, a linha é pura,
A cor são rosas a boiar em leite...
Mas quando é que Outro em mim nos não espreite
Delirantes de amor na noite escura...?
Sémen, urina, bílis, cuspo, suor,
Da vida da escultura são penhor...
Como esquecê-lo, ó estátua corruptível?
Que inda nem lasso o abraço, ou o corpo lasso,
Já a decepção desse Outro é que enche o espaço...
E achar-te bela, ó bela!; é-me impossível.
José Régio
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