quinta-feira, 16 de abril de 2009

BELEZA HUMANA


Que tem que em raptos de feroz ternura,
Nas ondas da volúpia, ao meu estreite,
Nem sei se mais com dor, mais com deleite,
Do teu corpo a vibrátil escultura?

Sua forma é perfeita, a linha é pura,
A cor são rosas a boiar em leite...
Mas quando é que Outro em mim nos não espreite
Delirantes de amor na noite escura...?

Sémen, urina, bílis, cuspo, suor,
Da vida da escultura são penhor...
Como esquecê-lo, ó estátua corruptível?

Que inda nem lasso o abraço, ou o corpo lasso,
Já a decepção desse Outro é que enche o espaço...
E achar-te bela, ó bela!; é-me impossível.


José Régio

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