Meus poemas desprezam a Beleza...
Fi-los descendo e transcendendo lodos.
(Dos lodos todos e dos poemas todos
Aqui vos falo com feroz franqueza!)
Fi-los, sentando à minha impura mesa
Quantos pecaram, por qualquer dos modos
Que há, de pescar, entre judeus e godos...
E assim os fiz mais belos que a Beleza.
Tenho as mãos negras e os sorrisos curvos
Dos que, na sombra, beijam as raízes
Do que parece claro à luz de fora.
Vinde aos espelhos dos meus olhos turvos!
Se sois infames, fracos, e infelizes,
Neles vereis como já cresce a aurora.
José Régio
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