Um dia, os fúteis sons que eu hoje emprego
Talvez se volvam expressões leais,
E os meus olhos, monóculos de cego,
Multipliquem a luz como os cristais.
Talvez, então, mau vão dessassossego
Seja sede a beber cada vez mais,
E as minhas asas frustes e morcego
Subam no azul como as das águias reais.
Um dia, o dominó que me mascara
Talvez me caia aos pés; e eu me alevante
No meu andor de glória e de desgraça.
Talvez o mundo, então, me volte a cara...
Mas só então, virado para diante,
Poderei ver o fundo à minha Taça!
José Régio
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